Sertão Hoje

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Ribamar Viegas

MINHA TIA

Contam que nos tempos idos, havia uma guarnição militar no Nordeste brasileiro que submetiam o jovem postulante a soldado a dois testes bem peculiares: - o teste da tapioca e o teste da indolência mental.

O teste da tapioca consistia em tirar a roupa, sentar e levantar o traseiro numa caixa cheia de tapioca de goma. Com auxilio de uma lupa, o militar responsável pelo recrutamento, conferia a “carimbada” na fécula e, quando detectava “sinais de evasão domiciliar” o militar, rigorosamente, encarava o moço, o sacudia pelos ombros e “gentilmente” perguntava:

- Deu quantas vezes?

A resposta mais comum, era:

- Uma, quando era criança!

Depois de mais sacolejos seguidos de um berro no pé-de-ouvido:

- Procure lembrar direito, cabra safado, a tapioca não mente!!!

Aí a coisa fluía normalmente:

- Três!... Quatro!... Seis!... Dez!... Muitas!...

E dessa forma, nada convencional para os dias de hoje, o rapaz “fraquejoso” do sexo era afastado de servir as Forças Armadas.

Quanto ao teste da indolência mental, consistia em o oficial fazer algumas perguntinhas básicas ao postulante a soldado e o mesmo responder com clareza.

Foi numa dessas que os interioranos Zezinho e Toinho, após passarem com louvores no teste da tapioca, foram chamados para responderem às perguntinhas do teste da indolência mental. Primeiro Zezinho:

- O que você veio fazer aqui?

- Vim me apresentar pro sinhô!

- Pra mim o quê, sua besta, você veio aqui para servir à Pátria!!

- Como é o seu nome?

- Zezinho!

- Zezinho não é nome de gente, sua égua!... Seu nome é José Eustáquio da Silva!... Taqui no seu alistamento!...

- Você sabe quem é essa aqui? – continuou o austero militar apontando para uma miniatura da bandeira brasileira fincada na sua escrivaninha.

- É uma bandeirinha! – respondeu o inibido caboclinho tremendo mais que vara verde.

- Bandeirinha, o quê, sua vaca!... Esta é a sua mãe!... O Símbolo da nossa Pátria!... Por ela você mata e morre se necessário!!

Zezinho foi dispensado de servir as Forças Armadas por timidez de raciocínio.

 - Você aí, venha cá! – intimou o homem de farda a Toinho, que  decorara as perguntas e respostas do primo Zezinho.

- Diga o quê você veio fazer aqui?

- Vim para servir a Pátria!

- Muito bem!... Como é o seu nome?

- Antônio Raimundo da Silva!

- Muito bem!... E quem é esta aqui? – perguntou o militar – com aparência mais calma ? apontando para a mesma miniatura da bandeira brasileira sobre a escrivaninha.   

E Toinho respondeu:

- É a minha tia, mãe de Zezinho!!