Ribamar Viegas
O SÁBIO NASRUDIM
O sábio Nasrudim viveu no século XIV e era adepto do sufismo, seita religiosa da antiga tradição persa que aliava humor com sabedoria.
Nasrudim escreveu muitas histórias, contadas até hoje mundo afora, sendo ele o personagem principal. Vamos recordar duas dessas histórias:
1? O SERMÃO DE NASRUDIM
Certo dia, os moradores do lugarejo, adeptos do islamismo, idealizaram pregar uma peça em Nasrudim. Por ele ser de outra seita, convidaram-no a fazer um sermão na mesquita loca, coisa que certamente ele teria dificuldade.
No dia e hora marcados para o sermão, Nasrudim chegou à mesquita, subiu ao púlpito e falou:
? Fiéis, sabem do que eu vou falar para vocês?
? Não, não sabemos, repetiram em coro.
? Então, considerem-se ignorantes da própria religião. Para surpresa geral, Nasrudim desceu do púlpito e foi para casa.
Dias depois, com o mesmo propósito, formaram uma comissão de fiéis e foram até a casa de Nasrudim para, mais uma vez, convidá-lo a fazer o sermão da sexta-feira seguinte.
Nasrudim começou o sermão com a mesma pergunta da semana anterior. Dessa vez, os fiéis responderam:
− Sim, sabemos!
? Neste caso – disse Nasrudim –, não existe razão para prender-vos aqui por mais tempo. Podem se retirar! E, mais uma vez, desceu do púlpito e foi para sua casa.
Por fim, depois de muito tentar, persuadiram-no, a voltar à mesquita na sexta-feira seguinte.
Ele começou o sermão com uma afirmação sobre a mesma pergunta:
? Então, já que todos sabem do que eu vou falar para vocês!... Ou será que não sabem?... Mentiram no sermão passados?...
Os fiéis – convictos de que dessa vez pregariam a peça em Nasrudim – responderam o combinado entre eles:
? Alguns sabem, outros não!
? Ótimo! Já que é assim, aqueles que sabem transmitam o que sabem para aqueles que não sabem. Em seguida, desceu do púlpito e foi embora para casa. Sentindo-se vítimas do próprio propósito, os fiéis desistiram de pregar peça em Nasrudim.
2 − A VERDADE DE NASRUDIM (Não é para quem raciocínio tímido).
O rei mandou construir uma forca na ponte de acesso à cidade e ordenou a sua guarda real para interrogar todos que por ali passassem. Aquele que falasse verdade teria seu ingresso na cidade permitido. Aquele que mentisse seria enforcado.
Nasrudim, na ponte, entre populares, deu um passo à frente e começou a cruzar a ponte.
? Onde o senhor pensa que vai? – perguntou o chefe da guarda.
? Estou a caminho da forca – respondeu Nasrudim calmamente.
? Não acredito no que está dizendo!
− Muito bem, se eu estiver mentindo, pode me enforcar.
? Mas se o enforcarmos por mentir, faremos com que aquilo que disse seja verdade!
? Isso mesmo – respondeu Nasrudim, sentindo-se vitorioso. – Agora vocês já sabem que a verdade é apenas a sua verdade, transmitam-na Vossa Majestade, com os meus respeitos.
(O amigo leitor (a) entendeu a verdade criada pelo Sábio Nasrudim?)