Sertão Hoje

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Padre Ezequiel Dal Pozzo

Padre Ezequiel Dal Pozzo é cantor e compositor, lidera o Projeto Despertai para o Amor, de evangelização através da música. Já lançou 5 CDS e 1 DVD e roda o Brasil com shows musicais, palestras, missas e pregações. Apresenta o programada de rádio reflexão Despertai para o Amor e o programa de TV Despertai para o Amor. É editor da Revista Despertai para o amor e autor do livro "Beber na fonte do amor”.

Sofro por causa da família. O que devo fazer?

A família, em sua essência, foi pensada por Deus para ser nosso porto seguro, a primeira escola do amor, o lugar onde o coração se aconchega. No entanto, em nossa caminhada, marcada por limitações e feridas, é justamente neste espaço que, muitas vezes, encontramos nossas dores mais profundas. A pergunta que ecoa em tantos corações é: "Eu sofro por causa da minha família. O que devo fazer?". Antes de tudo, é preciso acolher essa dor com verdade, sem máscaras. Sim, a família pode ser fonte de sofrimento. Conflitos, expectativas não correspondidas, palavras que ferem, ausências que marcam, vícios que destroem a harmonia... tudo isso é real e doloroso. Negar essa realidade seria construir nossa vida sobre a areia da ilusão. O primeiro passo para a cura é reconhecer a ferida. O segundo passo é uma mudança fundamental de perspectiva: parar de procurar culpados. É muito fácil cair na armadilha do vitimismo, dizendo: "Minha infelicidade é culpa dos meus pais", "Meu sofrimento é por causa do meu irmão", "Não sou feliz por causa do meu cônjuge". Essa postura, embora compreensível, nos aprisiona. Ela nos coloca como vítimas passivas, entregando a chave da nossa felicidade nas mãos de outra pessoa. A verdade libertadora que precisamos abraçar é que, embora o outro possa ter nos ferido, a responsabilidade pela nossa cura e pela nossa paz interior é nossa. Aqui entra a força do perdão. Perdoar não é um ato de esquecimento ou de concordância com o erro do outro. Perdoar é um ato de libertação para si mesmo. É cortar as correntes que nos mantêm presos à dor e ao ressentimento. Como Jesus nos ensinou, devemos perdoar "setenta vezes sete", não por uma obrigação, mas porque o perdão nos cura, nos liberta do veneno da mágoa e abre espaço para a paz. Lembre-se, o perdão é um processo, pode levar tempo, mas a decisão de começar a perdoar precisa ser tomada hoje. Além do perdão, é crucial entender que, por vezes, o distanciamento pode ser um gesto de amor. Amar não significa aceitar tudo. Em situações de toxicidade ou abuso, afastar-se para se proteger e permitir que a cura aconteça pode ser o ato mais corajoso e amoroso que se pode fazer – por si e pelo outro. Não é abandono, é a busca por um limite saudável, um espaço para que a paz possa florescer. Por fim, e mais importante, construa sua casa sobre a Rocha. Sua família de origem lhe deu a vida, mas a sua base fundamental, o seu alicerce maior, deve ser Deus. É Nele que encontramos a força para perdoar, o discernimento para estabelecer limites e a certeza de que somos amados incondicionalmente, independentemente das feridas que carregamos. Quando nossa segurança está em Deus, o comportamento dos outros pode até nos balançar, mas não nos derrubará. Se você sofre por causa da sua família, acolha sua dor, mas não se torne refém dela. Inicie a jornada da cura através do perdão, da responsabilidade pessoal, do diálogo. O amor de Deus te cura ao te dar a força para perdoar, te transforma ao te ensinar a amar com sabedoria e limites, e te sustenta como a rocha firme onde você pode sempre reconstruir sua paz.