Sertão Hoje

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Colunistas

Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

Demagogia

Amigos, amigas, eis que tem coisa que anda sumida nesses tempos líquidos e loucos que eu resolvi lhes falar de uma delas. O Dicionário, por exemplo, o que foi feito dos dicionários, gente?! Eram figurinhas fáceis, estavam sempre à mão, e agora, justamente agora, eis que desapareceram. Junto com as enciclopédias, os Dicionários entraram em extinção, caíram em desuso, rumam para um limbo cruel. É pena.

Dicionários, amigos gentis, amigas lindas, muitas vezes poupam-nos tempo, esse precioso e escasso elemento essencial para a vida terrena, o tempo, isso mesmo, os Dicionários naquele seu jeitão dicionarista de ser, completos e sisudos, exatos, precisos, guardam chaves para compreendermos de uma só vez coisas que parecem muitas vezes complicadas, duvidosas, complexas.

Vejam os senhores e senhoras uma polêmica que grassa aqui pela terrinha e até gerou ação judicial por parte de um Edil, ou seja, coisa que vai gastar recursos públicos, tempo de juízes, serventuários da justiça e afins. Pois bem, não precisaria de nada disso se um bom Dicionário fosse utilizado para definir o que se precisou da justiça para dizer se aquilo é isto, ou se isto é aquilo, ou o contrário, tanto faz.

Espere. Eu dizia que os Dicionários desapareceram, não foi? Então, exagero, como sempre exagero, que é para chamar sua atenção. Eles ainda não desapareceram, essa é a verdade, mas rarearam, fica melhor dizer assim. Acontece que aqui mesmo tenho uns deles, já gastos, usados, confesso que até empoeirados, mas vivos, ativos, úteis pois. E aí? Algum deles ainda respira?

O imbróglio todo (imbróglio tá no dicionário, viu?) diz respeito a uma distribuição de cestas básicas pelo poder público municipal, no caso pelo próprio prefeito municipal, em pessoa, com as devidas publicações do ato em todo e qualquer meio que é para toda gente saber. O vereador diz que não pode, que é errado, que fere a lei e coisas que os vereadores sabem e devem bem dizer.

E os Dicionários com isso, dirão os leitores mais argutos. Nada, respondo de primeira. Contudo, tudo, posso também lhes dizer. Fui ao Dicionário e achei. É batata, quem busca no Dicionário, acha!

Antes de terminar devo lembrar a todos que aqui chegaram que os Dicionários gostam de ser completos. Trazem não uma, mas, quando realmente bons, todas acepções da palavra. E lá estava:

“demagogia

substantivo feminino[Política] Poderio político das facções populares.[Pejorativo] Política. Ação ou desenvolvimento que visa manipular os sentimentos e paixões populares para conquistar o poder político.

[Pejorativo] O discurso que se faz com esse propósito (manipular a população).

[Figurado] Ação de demonstrar bons sentimentos (humildade, honestidade, bondade etc.), com propósitos escusos (escondidos).

Etimologia (origem da palavra demagogia). Dmagogo + ia/ pelo francês démagogie.”

Viram? Foi ou não foi rápido e fácil matar a charada? Como não dá para enquadrar o ato questionado como um exemplo de poderio político das facções populares, resta ao consulente de bom senso concordar com o Dicionário e, no caso presente, também com o Vereador que me deu essa crônica. O resto é com vocês que eu vou ali e volto já, vou buscar maracujá...