Sertão Hoje

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Colunistas

Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

Belo

Tem gente que nasce com uma elegância própria. É inexplicável tal característica, eu sei. E é também incomum, saibam. Pois bem, eu e muita gente aqui da terrinha perdemos um amigo assim, elegante pela própria natureza e que partiu de maneira tão repentina que até agora ainda não acreditamos. Eu mesmo, vascaíno sofredor como esse amigo agora ausente, esperava comemorar com ele a alegria que nos restou, a nós vascaínos convictos, isto é, ver o Vascão nosso não cair para a segunda divisão, mais uma vez.

Ultimamente era esse o assunto que dominava nossas conversas semanais ocorridas sempre nas feiras das sextas-feiras e vez por outra também na de sábado. E como a elegância era a sua marca pessoal, esse meu amigo não se deixava abater com as desventuras do Gigante da Colina, pelo contrário, brincava com isto, brincávamos...

Eu lhe dizia que para continuar assistindo as pelejas (ou seriam peladas?) do Vasco no campeonato brasileiro da primeira divisão necessário seria uma autorização médica. Ele dizia de pronto que o cardiologista dele já o havia autorizado, não sem antes recomendar este ou aquele procedimento prévio às partidas. E ríamos juntos do que em verdade era motivo para nosso choro.

Contudo, não foi este o elo que deu início à nossa amizade. Não, eu conheci este querido e muito saudoso amigo exercendo com um vigor e uma elegância impressionantes o Magistério. Mais precisamente o Magistério no antigo, extinto e que muta falta nos fez, Curso Profissionalizante em Enfermagem, que à época era ministrado no Instituto de Educação Anísio Teixeira. Eu, um iniciante na gestão educacional, ele, professor tarimbado e experiente de múltiplas matérias daquele curso, querido por todos os alunos.

Os tempos eram outros e as dificuldadesidem. Materiais e recursos financeiros ainda mais escassos. Mas o amigo elegantemente driblava tudo isto e punha em prática experiências e experimentos incríveis com o pouco que tínhamos. E depois, Curso de Enfermagem já extinto, voltamos a nos encontrar no mesmo Instituto de Educação Anísio Teixeira. Desta feita os laboratórios foram achados em ruina. E lá foi ele, sem pestanejar, consertar o que fosse possível, restaurar o que parecia impossível e, de novo, pôs em condições de uso tudo o que tínhamos e não estava sendo utilizado.

Desses tempos trago muitas histórias. Houve um evento que fizemos na vizinha Caculé, por exemplo, que marcou época. Uma feira de Ciências em praça pública em que a inventividade, boa vontade e espírito público do querido amigo já de saudosa memória impressionou a muitos. E ele se foi. Sem que eu o visse na última feira, a que não pude ir por problemas outros.

Eu lhe disse que este amigo era uma pessoa elegante? Disse, eu sei. Mas vocês podem achar que essa elegância consistia só na apresentação pessoal, roupas e tais, e devo lhes dizer logo que não, não era só por isto, embora também nesse aspecto ele fosse um homem elegante. Não, a elegância do Professor José Francisco dos Santos era de tal forma que ele costumava saudar os amigos e amigas pelo adjetivo “belo”, “bela”.

Vejam só que coisa mais fina! Ele próprio sendo tão belo ser humano dizia dos outros, elegantemente: belo! bela! E ele se foi, e hoje a noite o Vasco joga e qualquer que seja o resultado eu direi que foi belo. Não importa mais se nos manteremos na divisão principal, importa que torcerei em dobro pelo nosso time em honra e glória do mais belo dos vascaínos, o meu querido amigo e colega, o Professor José Francisco dos Santos, que agora descansa em paz...