Sertão Hoje

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Colunistas

Dário Teixeira Cotrim

Membro da Academia Montes-clarense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico de Montes Claros (MG), de Feira de Santana (BA) e da Bahia. Dário também é sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras.

O poeta do coração: Ulpiano Amaral dos Santos Guimarães

A nossa cidade de Guanambi vive clima de contagiante alegria com os novos escritores que estão surgindo. É bem verdade que os nossos antepassados viveram numa época de total analfabetismo, até porque naquele tempo, somente a cidade de Caetité sobressaía nas letras, isso graças aos seus filhos ilustres: Anísio Spínola Teixeira (1900-1971), Plínio Augusto de Lima (1845-1873), Joaquim Antônio de Souza Spínola (1848-1906), Joaquim Manoel Rodrigues Lima (1845-1902), Aristides Cezar Spínola Zama (1837-1906), e a beletrista Helena Lima Santos.

Retrocedendo ao pretérito, no início dos anos noventas, encontramos nos anais da literatura, o nome de um dos grandes poetas de Guanambi: o brilhante Ulpiano Amaral dos Santos Guimarães, contemporâneo e amigo o ilustre historiador Domingos Antônio Teixeira, foram eles os precursores das letras de nossa terra. Era o nosso vate filho do Capitão Benvindo Dias Guimarães e dona Laura Amaral Guimarães. Percebeu pela primeira vez a lua do dia na Fazenda Caiçara, do município de Guanambi, no dia primeiro de novembro de 1913. Bisneto de Joaquim Dias Guimarães, fazendeiro que doou à paróquia de Santo Antônio, as terras onde é hoje a cidade de Guanambi e neto da lendária Maria (Sá Tuta) da Glória Bezerra, indiscutivelmente a figura das mais conhecidas no limiar de Guanambi.

Ulpiano, concluiu os seus primeiros estudos na terra em que nasceu no adormecer do ano de 1928. Ele foi aluno do saudoso professor Camerindo Batista Neves. Já adolescente, o poeta foi morar na cidade de Jandaia do Norte, Estado do Paraná, onde obteve um cabedal de conhecimento sobre as técnicas da literatura. De volta à sua querida Guanambi, pouco tempo depois ele casou-se com a bela jovem Ana Amélia Ferreira Costa (filha de ilustríssimo cidadão José Ferreira Costa, que fora prefeito de Guanambi nos períodos de 1930-1932 e 1936-1943), com quem teve sete filhos. Ingressou no quadro de funcionários dos Correios e Telégrafos, trabalhando nas agências de Guanambi e de Caculé e, ainda prestou seus conhecimentos nos serviços da construção da estrada-de-ferro de Urandi a Espinosa. Por último, como Serventuário da Justiça, desempenhou a função de Escrivão Titular do Cartório dos Feitos Criminais da Comarca, trabalho este que o exerceu até o dia do seu falecimento, o que ocorreu em 19 de julho de 1982.

Fez da boemia parte integrante de sua vida assim como todo poeta que se preza faz. Tabaréu, como auto denominava-se, tinha lá seus costumes de morador de cidade interiorana: pitava cigarros de fumo-de-rolo em palha seca de espiga de milho e calçava as alpercatas de couro de três pontos. Estudioso da filosofia grega e latina, o poeta gostava e admirava os poemas de Castro Alves, Casimiro de Abreu e Augusto dos Anjos.

No dizer do seu filho, o doutor Odon Amaral, era ele um defensor ardoroso da liberdade, principalmente do livre-pensamento e entendia que o bem supremo sempre estava presente no entender e saber das coisas. Portanto, o nosso poeta, muitas das vezes colaborava nas atividades literárias, através de Grêmios realizados no Ginásio de Guanambi, sob a direção do eminente professor doutor Laert Ribeiro e do ilustre professor Décio Novaes, e ainda no Ginásio e Escola Normal São Lucas, que era dirigido pela nobre professora Inédita Costa de Macedo.

Façamos uma paragem aqui para que seja lembrado este lindíssimo poema de Ulpiano:

Coração

Você mulher que ri de mim,
De outrem,
Tome meu coração e dele faça uma salada
Ou uma fronha engomada
Onde sua cabeça possa repousar.

Depois de comê-lo como salada
Ou de dormir sobre a fronha engomada
Veja o que fui?

Ansioso, só, sonhador
E cheio de eterno sono, sonho de amor.

Este grande homem-poeta, possuído de elevado espírito de bondade e sabedoria, deixou para nós um exemplo de pureza nas suas inspirações e de trabalho nos seus feitos pela comunidade em que vivia. O seu nome ainda agora vive fúlgido na memória dos que o conheceram e os que sempre o admiraram como homem probo e como poeta de sensibilidade maior.