Sertão Hoje

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Aurélio Rocha

brumadense, paramiriense e caetiteense, Aurélio Rocha é médico, formado pela UFBA, turma de 1963. É professor Titular de Ginecologia-Obstetrícia da Faculdade de Itajubá-MG

PEDEM JUSTIÇA!...

Os programas em fim de tardes – destaque Bandeirantes e Record – se pudessem ser espremidos com certeza produziriam jatos de sangue! Tudo bem. Assiste quem quer. Mas uma coisa nos chama a atenção: não há um dia sequer que não tenha em rede nacional alguém pedindo “justiça” porque algo aconteceu com a família. Assistimos dois fatos que colocaram frente às câmeras pessoas a “pedir justiça”:

- uma mulher com idade próxima aos 39 anos, grávida apesar de diabética e (segunda gravidez). Teve o filho que faleceu horas depois...

- uma mulher com idade maior que 40 anos, extremamente obesa, diabética (comum) vai fazer uma endoscopia prévia planejando uma operação “bariátrica” (para reduzir o peso dela, a mulher, pesa mais de 110 quilos). Durante a endoscopia – e isso pode ocorrer em várias circunstâncias – há uma parada cardíaca e a paciente faleceu.

Como vemos acontecimentos não habituais – como nas mortes em geral – que se analisados só podem ser rotulados como fatalidade. No primeiro caso se partiu para um parto “dito natural” (tão antigo quanto Eva) mas há que se ressaltar: uma mulher diabética que engravida é considerada de RISCO. E se passou dos 30 a 35 anos, pior ainda. O risco pode ser para mãe como para o concepto. No caso registrado acima a morte foi o concepto e uma filha da gravida e a seguir a puérpera, já mulher feita, mãe também, quer “JUSTIÇA”. Que tipo de justiça, há que se perguntar uma vez que os profissionais que assistiram fizeram (isso é óbvio) a rotina. Esta agora puérpera já “idosa” e diabética, deveria procurar maneira (e há varias e eficientes) de evitar gravidez. O eco de “quero justiça” se perde e desanima se atuar na área de obstetrícia. Cada dia que passa diminui a procura para especialidade obstétrica.

Os hospitais tem dispositivos para receber impactos de acusações “de culpa” para o seu pessoal, principalmente o MÉDICO, que não sabemos porque passou a ser visado, razão porque agora existe uma papelada que paciente ou responsáveis assinam durante o ato de internamento. Médico não é DEUS. É mais que óbvio. Erro médico existe mas não tão incidente como parece nos meios de comunicação. Analisando os dois casos, começando pela criança que morreu após nascer:

- a gestante, - MÃE – com 39 anos, já tendo uma filha de 20 anos em casa. È diabética. Vem sendo acompanhada e em uso da insulina. Ai não toma os cuidados que seria imprescindíveis e vem a GRAVIDEZ DE RISCO porque uma diabética gravida é esse o rótulo em qualquer parte do globo, Faz o pré-natal que não se sabe correto ou não. Entra em trabalho de parto e se faz opção “pelo dito parto natural” que para o caso é discutível. A criança – é claro com peso maior porque mãe diabética – vem ao mundo e lamenta-se a sua morte. O pedido de JUSTIÇA via televisão é para que? Não consegui uma resposta.

- A paciente pesa 138 quilos! Peso de chamar a atenção para uma altura de 1,60cm, tem uma filha já adulta. Agora resolveu fazer a operação BARIATRICA (é redução do estomago (explicamos a grosso modo). A equipe – como rotina – solicita uma ENDOSCOPIA (é um aparelho que passa pela boca e vai até o estomago). Procedimento rotineiro, do dia-adia do gastroenterologista. Eis que tem, durante o exame, uma parada cardíaca que não se conseguiu reverter. A filha e mais outros parentes vão para porta da clínica (por sinal de grande conceito) para pedir JUSTIÇA e como no caso da criança recém-nascida que morreu, fazem boletim na Delegacia. Destaco que além de tudo a que teve a parada cardíaca também DIABÉTICA!..

Domingo de carnaval – onde não há os agitos do MOMO – mesmo assim se fica ligado e hohe os amigos não aparecem. Fico a meditar como iria me comportar em sala de aula, a discutir com doutorandos e residentes os fatos relatados. Felizmente depois de 35 anos de ensino chegou (solicitamos né?) a aposentadoria... Não quer dizer que esteja (despreocupado com a situação do exercício da medicina”. Só.