Sertão Hoje

Sertão Hoje

Colunistas

Amanda Bonfim

Graduanda do curso de Letras Modernas (Português, Inglês e suas respectivas literaturas), pela Universidade Estadual do Sudoeste da Bahia (UESB). Atua como professora de produção textual e cultiva os hábitos da leitura e escrita, não apenas no meio acadêmico, como também por fruição. Engaja-se em projetos de Iniciação Científica e revisão textual.

Uma projeção do futuro

Há dias que duvidamos de nós mesmos. “Será que vou conseguir? Será que sou capaz?”  – você se questiona. Então, embarcamos em uma jornada exaustiva de tentar alcançar tudo o que desejamos a qualquer custo. Nos levamos ao extremo; renunciamos momentos preciosos; abdicamos do silêncio apaziguador; ignoramos a presença de alguém amado; nos trancafiamos em um quarto, rodeados de livros e cadernos; confidenciamos nossos segredos a nós mesmos; deixamos de partilhar o pão; abrimos mais embalagens, descascamos menos; nos esquecemos de quem somos, na eterna e incansável busca de quem queremos nos tornar.

Com isso, tornamo-nos filhos ingratos, que renunciaram a dádiva de serem reconhecidos pelo Pai no secreto, e preferiram ser aclamados pelos homens em público. Nossos dias tornam-se cinzas e vemos mais o branco da parede, do que o azul do céu. Nosso corpo já está cansado e não consegue encontrar descanso enquanto repousa. Nosso estômago arde com um gole a mais de café. Nossos olhos estão fundos, vermelhos, pesados e custam a manter-se abertos. Nossas mãos, calejadas, entram em desespero para dar conta da lista enorme de obrigações. Sentimo-nos esvaziar as energias e forças. Por que tudo precisa ser assim?

Como em um choque repentino, você se olha no espelho e se questiona por que tem levado a vida dessa forma? Quando o pouco deixou de ser suficiente? Quando foi que você se tornou alguém tão desprezível e miserável? Então, em um relance de extrema fragilidade humana, você sente braços gentis ao seu redor, te acalentando e te embalando em um sono revigorante. As infinitas preocupações escorrem por suas mãos, te abandonam, e em você permanece a certeza de que até mesmo os pássaros do céu têm o alimento diário, e os lírios do campo têm a mais bela vestimenta. Por que, ora, você, criação única do Pai, não terá o pão e a roupa? Por acaso você já foi abandonado algum dia? Até mesmo no momento de mais profunda solidão, Ele estava lá.

Tudo se assenta no âmago da nossa alma, quando finalmente renunciamos o controle obsessivo do incontrolável que é viver. A bagunça, provocada pelo turbilhão de atividades, se ordena ao som da Sua voz e, assim, as coisas encontram seu lugar. A perfeita paz pode enfim reinar.