Sertão Hoje

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Padre Ezequiel Dal Pozzo

Padre Ezequiel Dal Pozzo é cantor e compositor, lidera o Projeto Despertai para o Amor, de evangelização através da música. Já lançou 5 CDS e 1 DVD e roda o Brasil com shows musicais, palestras, missas e pregações. Apresenta o programada de rádio reflexão Despertai para o Amor e o programa de TV Despertai para o Amor. É editor da Revista Despertai para o amor e autor do livro "Beber na fonte do amor”.

Existiu em Jesus algum tipo de violência?

Um dos problemas fundamentais quando pensamos em Jesus, hoje, é repensar a questão do sofrimento. O discurso tradicional sobre Jesus nos faz pensar que precisamos sofrer para nos salvar. O sofrimento seria necessário para a salvação. Essa ideia esta fundamentada na própria tradição e pregação da Igreja que sustenta que “Cristo morreu pelos nossos pecados”. Você que crê, deve considerar essa afirmação tranquila e verdadeira, afinal já a ouviu inúmeras vezes. Na Bíblia encontramos isso de forma ainda mais contundente. “Sem derramamento de sangue não há perdão”, encontramos em Hebreus 9, 22. O apostolo Paulo afirma: “Deus não perdoou nem seu próprio Filho, mas o entregou (à morte) por nossos pecados” (Rm 8, 32).

Você pode me perguntar: “afinal, padre, o que quer dizer com isso”? Quero te dizer que essas afirmações acima podem produzir em nós e na humanidade um efeito muito perigoso. Qual seja? Compreendermos que é sempre necessário o sofrimento para solucionar o pecado. Sabemos que o pecado é o que nos separa de Deus e a libertação do pecado o que nos aproxima de Deus. Se a solução do pecado é o sofrimento, a dedução comum, que acontece em nossas cabeças de crentes, é que precisamos passar pelo sofrimento para estarmos perto de Deus. Essa dedução é um assombro. Reproduz a ideia de que Deus rima com dor, com padecimento, derramamento de sangue, expressões essas que traduzem de forma clara a realidade repugnante da violência. Jesus foi radicalmente contra a violência. No entanto, na história das religiões e do próprio cristianismo, essa ideia, se traduziu em guerras e violências em nome de Deus. Afinal, valeria a pessoa sofrer violência e até ser morta, para ser salva, uma vez que, não “convertida” a fé, não seria salva e esse seria o pior destino. Assim, valia o argumento da violência imposta ao “não crente”, ao diferente, para “salvar a sua alma”. Em nome de Deus se legitimava tudo.

Vejam que o papa João Paulo II pediu perdão das barbaridades cometidas na história da Igreja por essa postura violenta e, dá para dizer, anti-Evangelho. Se o Evangelho significa uma boa notícia isso nunca mais poderá acontecer. Mas aqui surge uma pergunta: estaríamos nós, hoje, distantes desse pensamento? Já evoluímos o bastante? Não. Ainda prosseguimos com essa compreensão.  Quando supervalorizamos a dor de Jesus, o sangue, as mãos ensanguentadas, a cruz, os açoites, a violência sofrida; quando não aceitamos crenças diferentes, posturas diferentes, quando valorizamos mais a doutrina sobre Deus do que o amor, quando somos intolerantes e autoritários em nossa fé, então, ainda estamos enraizados e presos nessa velha compreensão. Jesus nos salvou porque nos amou e não porque sofreu. O sofrimento de Jesus foi imposto pelo mal. Não é o “sofrimento em si” que nos salvou. Não foi a cruz que nos salvou. Mas o amor que transpareceu na cruz. Caro leitor, essa compreensão muda muita coisa e muitas posturas. Precisamos continuar conversando em outro momento.

Deus está conosco. Ele é amor!