Sertão Hoje

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Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

“À SOMBRA DAS CHUTEIRAS IMORTAIS”

Amigos, amigas, de uma coisa tenho absoluta certeza, é preciso ler! Não há outro caminho para o saber, não há outro caminho para a liberdade. Vejam que o sujeito que não ler, por não saber ou por não querer fazê-lo, vai ser guiado pelos que lerem por ele, para ele. É ou não é?

E quando eu digo ler é ler de tudo, é ler sempre, é ler sobre os mais variados assuntos tratados por ângulos que nem de longe imaginaríamos. Infelizmente este não é um hábito nacional, e muito mal isto nos tem feito e ainda fará. Contudo, eis que lhes trago uma boa nova, uma indicação de leitura que será capaz de despertar o prazer do texto em muita gente que não tem o costume de folhear páginas...

Trata-se do imperdível “À Sombra das Chuteiras Imortais”, coletânea de crônicas sobre futebol escrita pelo genial Nelson Rodrigues e primorosamente selecionadas por Ruy Castro, outro grande escritor brasileiro. E ai é que entra o diferencial da minha indicação. Nelson Rodrigues escreve de forma brilhante, irretocável, sobre um assunto que agrada a quase todos os brasileiros, o futebol. Assim, você que me lê acaba de ganhar uma excelente opção de presente para aquele irmão, pai, sobrinho, marido, namorado, que é dado a bater um baba mas diz não gostar de ler. Compre para ele um exemplar de “À Sombra das Chuteiras Imortais”, na internet é possível adquiri-lo por trinta e poucos reais, e tenha certeza de ter feito um bem ao sortudo que receber o seu presente.

É um livro saboroso de ler, Leve. Agradável. A prosa do Nelson Rodrigues é a primeira, e para mim ainda a única, que conseguiu captar todas as emoções do futebol ao modo brasileiro. O mestre fala sobre as três primeiras copas que ganhamos, abrangendo um período que vai de 1955 a 1970 e, ao longo de setenta magníficas crônicas, vai desenhando um painel do que se transformou a sociedade brasileira, do modo que o brasileiro mais comum vê o seu país, a sua gente, ele próprio.

Apreciem aí essa pequena amostra do majestoso “À Sombra das Chuteiras Imortais”, trechinho da primeira crônica em que o Nelson fala sobre Pelé, à época um garoto, mas já um gênio, e depois digam se tenho ou não tenho razão, se vale ou não a pena lê-lo:

“(...)De certa feita, foi até desmoralizante. Ainda no primeiro tempo, ele recebe o couro no meio do campo. Outro qualquer teria despachado. Pelé, não. Olha para a frente e o caminho até o gol está entupido de adversários. Mas o homem resolve fazer tudo sozinho. Dribla o primeiro e o segundo. Vem-lhe ao encalço, ferozmente, o terceiro, que Pelé corta sensacionalmente. Numa palavra: — sem passar a ninguém e sem ajuda de ninguém, ele promoveu a destruição minuciosa e sádica da defesa rubra. Até que chegou um momento em que não havia mais ninguém para driblar. Não existia uma defesa. Ou por outra: — a defesa estava indefesa. E, então, livre na área inimiga, Pelé achou que era demais driblar Pompéia e encaçapou de maneira genial e inapelável. (...)”

                Viram? É ou não é uma grade dica de leitura? Então comprem o livro para dar de presente, mas não deixem de lê-lo antes...