Sertão Hoje

Sertão Hoje

Colunistas

Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

República de bananas?

Amigos, amigas, se tem uma coisa que é certa nessa vida de brasileiros que levamos é que tudo o que pode piorar, piora. Vejam vocês que eu estava aqui, de boa, navegando pela internet para ver se descobria coisa interessante para fazer a crônica de hoje e eis que vejo a notícia, a foto e pior ainda, o vídeo...

Evento religioso, o Presidente da República presente. Melhor dizer, mais um evento religioso em que o Presidente se faz presente. Até aí, tudo bem. Entretanto, como em qualquer lugar que o Presidente da República vá, também o evento ganhou tons políticos. Tons e movimentos.  O homem estava contrito, ouvia-se um conhecido cântico evangélico e sua Excelência, o Presidente, resolve então protagonizar a cena imprópria e vai abraçar Prefeito do Rio de Janeiro e com ele realizar uma dancinha no mínimo constrangedora.

Deu-se então o que já é marca dessa quadra tenebrosa da vida nacional que é a mistura, a confusão entre religião e política. Pior, no caso, a mistura entre o Estado e a religião. Impróprio, para não dizer mais nada, tal movimento presidencial não deixou mais nenhuma dúvida quanto aos propósitos daquele encontro. Ocorre que para se deslocar o Presidente da República consome muito dinheiro público, com o aparato de segurança, aviões e tais. Ridículo e caro para todos nós, contribuintes.

Mas, não se esqueçam, tudo que pode piorar, piora. Eis que naquele mesmo evento participava sem nenhum pudor um juiz federal, o Marcele Bretas. Aí a confusão ainda é maior. Um magistrado que faz aberta política. Aberta não, escancarada. O mesmo juiz, antes do tal encontro religioso, havia subido em palanque preparado para inauguração de obras pública, um comício, como se dizia antigamente. Servil, o juiz que deveria se manter distante e discreto, aplaudia os oradores, vibrava com os oradores, e para chegar ao local foi de carona no carro do Presidente. Uma lástima, um perigoso sinal de parcialidade vindo de autoridade que, em tese, poderá julgar ações envolvendo os seus amigos de palanque.

Depois de ler essas duas notícias cheguei até a pensar que mais nada encontraria e que reforçasse a tese de que tudo o que pode piorar sempre piora. Mas qual o quê, nessa vida de brasileiro que levamos definitivamente desgraça pouca é bobagem.  Eis que logo mais vi outra foto, de outro encontro presidencial, desta feita lá estava o nosso mandatário, todo pimpão, ao lado do técnico do Flamengo, o Jorge de Jesus. Pronto. Não faltava mais nada. Política e religião, política e judiciário, política e futebol. Agora chegamos ao fundo do poço, eu pensei. Não há como piorar, eu pensei. Foi então que li as declarações do Presidente sobre a repórter Patrícia Campos Melo, fiquei enojado e desliguei o computador...