Sertão Hoje

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Fabiano Cotrim

É professor e advogado do escritório "Cotrim, Cunha & Freire, Advogados Associados", em Caetité. Membro da Academia Caetiteense de Letras (cadeira Luís Cotrim), Mano, como é conhecido, gosta mesmo é de escrever poesias, mas, desde os tempos de Maurício Lima, então batucando na sua velha Olivetti Lettera 32, colabora com o Jornal Tribuna do Sertão, sempre nos mandando crônicas.

O jeito certo de comer...

Parte 3 - Feijão

Eu lhes disse, quando do estabelecimento das regras gerais desse guia absolutamente amador e intransigente sobre o jeito certo de se comer as coisas aqui dessas terras sertanejas que é negócio arriscado estabelecer um jeito que seja o certo para isto ou para aquilo, tantas e tão variadas são as pessoas nesse mundo.

Apois, então nessa parte é que a coisa vai mesmo descambar para o quase impossível, posto que falaremos sobre o rei dos alimentos sertanejos, assim como majestade desses vastos brasis, o feijão. Sim, estimados senhores e gentis senhoras, vou tratar logo do mais difícil nessa empreitada epopeica em que me lancei por conta, gosto e risco. Serei estraçalhado por suas críticas, já sei que serei. Afinal, é muita empáfia de um reles sujeito tão comum quanto eu querer agora dizer aos outros qual é o jeito certo de comer o seu feijãozinho de todos os dias.

Entretanto, recomendo muita calma nessa hora e lhes afianço que já não é o caso de sair espancado o pobre cronista. Não, aqui não me ocuparei de contrariar quem gosta de feijão assim ou assado, eis que acho e afirmo para todos que o jeito certo de comer feijão é exatamente o jeito que você goste de comer feijão, desde, é claro - e se não fosse assim não precisaríamos desse majestoso guia - que o comensal respeite códigos velhos e estabelecidos pelos séculos. É isto e não poderia ser de outro jeito. O feijão é tão comum ao nosso gosto, aos nossos hábitos alimentares, que no seu caso vale quase tudo nas preferências de como saboreá-lo.

Sendo assim, pego um atalho e digo logo não o jeito certo de comer feijão, mas sim o jeito errado. É o seguinte, feijão tem que ser feito do jeito certo, isto é, com alguma sustança extra acrescentada ao seu preparo, sendo os principais o toucinho, e/ou o assim chamado osso do patim. Temperadinho no jeito, corado pelo toque precioso do pó do urucum, cozido lentamente, se possível. Na panela de barro e no fogão de lenha, se afortunado for quem irá lhe comer. O que quero dizer é que aquele feijão branquelo e nu das suas vestes de saudáveis gorduras não merece o trono de majestade dos pratos sertanejos, jamais!

E não é só por uma questão de gosto pessoal do autor que este guia transcendental e mítico agora estabelece esta regra inquebrantável, este dogma culinário. É que feijão sem sustança não se presta para a companhia do seu complemento se não essencial quase isto, a farinha. Sim amigos, deixei para o fim o veredito mais polêmico e sobre o qual os infiéis certamente se insurgirão. Há sim um jeito certo e inegociável de comer feijão pelas bandas de cá e ele envolve misturar o rei dos nossos grãos a uma porção justa e certa de farinha de mandioca, que será incorporada ao prato em um amassar cadenciado e respeitoso. Este é o jeito certo, o mais são as variações...