Sertão Hoje

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Vitor Hugo Lima da Silva

Vitor Hugo Lima da Silva é médico, clínico geral, formado em 2001 pela Universidade Federal da Bahia. Atualmente, reside em Ituaçu, onde trabalha como médico concursado no Programa Saúde da Família (PSF) e também em uma clínica particular (Fisioclem), de sua propriedade.

ANÁLISE RACIONAL DOS DADOS PANDÊMICOS DA ATUALIDADE.

Analisemos uns dados epidemiológicos e os tratemos com racionalidade: A taxa de mortalidade bruta do Brasil é de 6,6 pessoas por 1000 habitantes/ano (estudo de 2016, mas podemos estrapolar aproximadamente para todos os anos que rodearam este ano). Assim, temos que morrer no Brasil por ano 1.386.000 pessoas, considerando todas as causas de morte (por isto o nome taxa bruta de mortalidade). Estudos epidemiológicos clássicos afirmam, com base em pesquisas já sedimentados da epidemiologia e economia, que pra cada 1% de aumento no desemprego de uma nação se aumenta em 0,5% a taxa de mortalidade bruta. Assim, temos que no Brasil a cada 1% a mais no desemprego, morrem a mais 69.300 pessoas por ano, além dos 1.386.000, também de todas as causas. Como exemplo, se em um ano o país melhorar em 2% o seu índice de desemprego, poupa-se 138.600 vidas. Resta saber qual vai ser a taxa de desemprego durante e depois da atual pandemia!!!

Considerando ainda a atual pandemia, momento em que o foco da saúde, principalmente a pública, está sendo a doença covid 19, devemos levar em consideração que muitos pacientes que estavam marcados para um tratamento como, por exemplo, de uma cirurgia de ponte safena, uma retirada de vesícula biliar com cálculos, um internamento para prostatectomia em ca de próstata, um idoso com desidratação ou com pneumonia comunitária, etc; enfim, um tratamento eletivo mas cuja doença poderá evoluir para o óbito; considerando também outros pacientes, que estavam marcados para consultas ambulatoriais onde iriam ser descobertas doenças em estágios ainda tratáveis de alguma doença agressiva e que não terão esta chance; considerando tudo isto, imagino que este número de 69.300 por cada ponto percentual no desemprego, seja ainda maior, ainda que não esteja diretamente ligado à empregabilidade, e não terá como ser calculado. Ficarão fora das estatísticas. E me parece que a faixa etária destas pessoas é menor que as das vítimas fatais pela covid 19, em média.

Estas pessoas, tanto as com diagnóstico grave que deixarão de ser tratadas, quanto as que não terão a oportunidade de terem seus diagnósticos no momento certo (evitando, assim, o óbito) por os serviços ambulatoriais e de exames complementares Brasil afora não estarem funcionando em seu ritmo normal, e por eles próprios estarem amedrontados dentro de casa, fazendo "sua parte como cidadão", deixando para depois aquele sintoma que vem incomodando-os, por ainda não ser algo insuportável, para ser avaliado por um médico num segundo momento, após os serviços voltarem ao normal, estas pessoas ficarão ocultas, serão mortes fora das estatísticas e não derramarão lágrimas midiáticas nem de famosos. Não serão casos reais mostrados em reportagens. Ficaremos somente nós da área de saúde, principalmente nós médicos, como os únicos cientes que estas pessoas existem e deixarão de existir; faziam parte do nosso cotidiano diário.