Sertão Hoje

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Dário Teixeira Cotrim

Membro da Academia Montes-clarense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico de Montes Claros (MG), de Feira de Santana (BA) e da Bahia. Dário também é sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras.

Poucas Palavras: livro de Marcelo Castro de Lima

A poesia é o espírito da nossa infância. E vou muito mais além desse legado de crenças: a poesia é tão somente um saco-de-estopa repleto de doces e imagináveis saudades. A poesia vem a galope assim como vem a saudade. Por isso é que ela é tão bela! Nela não há um começo visual e nem mesmo um termo aceitável, porque é o resultado do que imaginamos e do que sonhamos. Sendo assim, deve perdurar por uma eternidade. Em Poucas Palavras... o autor utiliza-se de todas as palavras para expressar o seu verdadeiro desabafo, em forma de poesias. A lavra poética de Marcelo Castro de Lima é muito mais que gotas de otimismo, é a sua própria memória em pensamentos por todos os caminhos em que há espinhos.

Em Poucas Palavras... não existem meias-palavras, assim como faziam os preclaros poetas da fase simbolista. A forma de sua escrita, simples e solta, como nos é aqui apresentada, lembra-nos, desde então, a fase do modernismo durante a chamada Semana de Arte Moderna, que ainda está em voga. Assim, a agradável escrita de Marcelo Castro de Lima associa-se também a dos poetas: Thiago de Melo, Ferreira Gullar ou, mesmo o polêmico Mário Quintana, todavia, ainda em fase embrionária. O jovem Marcelo é desses poetas que, para felicidade nossa reinventaram gotas de otimismo em versos livres. O que assim também fazem os de autoajuda, bem lembrado na pessoa de Paulo Coelho, que aponta o caminho para alcançar uma felicidade plena, ou talvez, Leonardo Boff, que procura numa reflexão mais aguçada, escrever sobre a necessidade de uma espiritualidade cósmica e ecológica para garantir o futuro da humanidade.

A poesia de Marcelo é bem mais simples e desmistificada. Ela nos apresenta uma série de textos que podem ser lidos separadamente, com reflexões sobre temas existenciais como a solidão; a angustia e a esperança, numa perspectiva de vida cristã. No geral, ela facilita o nosso entendimento para com as aspirações e os sonhos quiméricos do ilustre autor. Poderíamos dizer, ao mesmo tempo, que a sua imagem de pensador é principalmente aquela que se acrisole, coisa rara entre tantos escritores de versos e prosa. Poucas Palavras...é ensinamento. Poucas Palavras...é reflexão. Poucas Palavras...é esperança.

É ensinamento quando o desconhecido passa a ser o nosso aliado mais forte, é reflexão quando os olhos se fecham com esperança e é esperança na medida que “enfrentamos um mundo que se acabará por não ser para sempre”.

Aqui não há regras e nem formas definidas. Também nem precisariam delas. Não que não deva o nobre autor retroceder ao parnaso, na concepção estritamente histórica que lhe cabe de corrente poética, mas num significado mais amplo que possa abranger também a prosa, qual se impõe em tertúlia como esta, onde convivam brilhantemente prosadores e poetas.  

Impossível analisar em Poucas Palavras... poesia por poesia. Mas é verdadeiramente possível analisá-lo como um conjunto poético, em linguagem elegante para o melindre das almas. A língua para o poeta é o mármore para o artista: o que deva ser o de melhor qualidade para que sejam imortalizadas as suas obras de artes.

O livro traz ainda uma belíssima introdução de Marilia Pestalozi, que buscou sintetizar a trajetória estudantil do neoacadêmico das letras, desde da primeira vez que o ouviu declamar As Batalhas Travadas, nas universidades alagoanas, até os dias atuais. A capa do livro tem fino gosto. Uma belíssima arte reproduzida em vivas cores, o que ameniza o nosso espírito e nos transporta ao repouso de um doce anoitecer.

Caro Marcelo, o primeiro passo já foi dado. Pelas memórias, poesias e pensamentos sabemos que outros passos virão e, com certeza, serão eles bem mais firmes e mais consistentes do que esses preliminares. Parabéns e sucesso mais uma vez.