Sertão Hoje

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Dário Teixeira Cotrim

Membro da Academia Montes-clarense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico de Montes Claros (MG), de Feira de Santana (BA) e da Bahia. Dário também é sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras.

LINDOLFO ROCHA: O ADVOGADO DO SERTÃO

Na bibliografia norte-mineira encontra-se um belíssimo livro de Epitácio Pedreira de Cerqueira, residente em Itaberaba, na Bahia, e um grande admirador do romancista Lindolfo Rocha. E quem foi Lindolfo Rocha? O nosso confrade do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, Dr. Haroldo Lívio, nos fala com subido orgulho desse importante filho de Grão Mogol, que escreveu um dos mais importantes livros da literatura brasileira: Maria Dusá. Foi, portanto, o eminente farmacêutico de Itaberaba, Epitácio Pedreira de Cerqueira, que trouxe ao proscênio por esta belíssima biografia a vida e a obra do romancista Lindolfo Rocha: o Advogado do Sertão.

A narrativa do livro nos traz cenas maravilhosas da infância de Lindolfo Rocha, desde o dia em que a sua família arrumou as malas para aventurar vida nova no sertão baiano. Antes de partir “o recém-nado Lindolfo recebeu das mãos do padre Vitório, de [São José] de Gorutuba, a água lustral”. Na Conferência do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, de 21 de julho de 1907 (Revista do IGHB – nº34, p. 144), foi dito que “não se conhece mais sobre a sua primeira idade, mas viveu desde criança no sertão da Bahia, e conheceu a sua maior parte por muito ter viajado”. Entretanto, temos notícias de que o menino Lindolfo Rocha esteve por mais de dez anos em Bom Jesus dos Meiras, hoje a cidade de Brumado – Bahia. Algum tempo depois, outras notícias dele como tropeiro nas Lavras Diamantinas.

O livro Maria Dusá, que já foi tema de uma crônica nossa publicada na Coluna Vitrine, trata-se de um romance que tem como pano de fundo as minas de diamantes e outro da Chapada Baiana. São fatos das cidades de Mucugê, Xiquexique (hoje, Igatu), Comércio de Dentro (hoje, Andaraí), Rio de Contas, Lavras. Como personagem importante, o livro a figura do fazendeiro Joaquim Manuel, pai do primeiro governador eleito no Estado da Bahia. Disse Helio Pólvora, prefaciador da obra, que “das páginas, pois, de Lindolfo Rocha – O Advogado do Sertão emerge mais que o retrato de corpo inteiro do autor de Maria Dusá”. Não queremos polemizar, mas apenas devolver ao bom mineiro Lindolfo Rocha o reconhecimento que o silêncio lhe tem negado.  

Lindolfo Rocha nasceu no dia 3 de abril de 1862, era filho de Manuel Jacinto Rocha e de dona Irene Gomes Rocha, na cidade de Grão Mogol, Minas Gerais. Foi advogado e poeta. Contribuiu com muito valimento para as letras literárias, baianas e mineiras. Num recital beneficente, o poeta Lindolfo Rocha, como registra o seu biografo, escreve as seis sextilhas “As Duas Órfãs”, em duas quadras. Vejamos: “–Oh! São dois anjos peregrinos, belos/ duas estrela d’ouro céu mais perto/ são duas flores, que um tufão sombrio/ lançou nas vagas dum areal deserto!/ Ei-las tão lindas! Tão crianças! Ei-las/ trajando a veste, que nos lembra a morte!/ Ai! Já, tão cedo, no arrebol da vida/ É triste arcar-se com o tufão da sorte!...”. O livro Lindolfo Rocha – O Advogado do Sertão, de Epitácio Pedreira de Cerqueira, regata o valor máximo que a nossa literatura para a nação brasileira, assim como fizeram Darcy Ribeiro e Cyro dos Anjos.