Sertão Hoje

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Colunistas

Dário Teixeira Cotrim

Membro da Academia Montes-clarense de Letras e dos Institutos Histórico e Geográfico de Montes Claros (MG), de Feira de Santana (BA) e da Bahia. Dário também é sócio correspondente da Academia Caetiteense de Letras.

A PISA

Diz o dito popular: “Um é pouco, dois é bom e três é melhor ainda”. Ainda mais quando se trata de um conto sertanejo, onde as nossas tradições e os nossos costumes estão envolvidos numa misteriosa emulação de ciúmes em três visíveis dimensões. Assim, o mestre das letras, o ilustre poeta Sebastião da Silva Cardoso, ou simplesmente Tiãozito, filho da nossa querida comunidade do Brumado, de Exupério Pinheiro Canguçu, outrora Brejo do Campo Seco do Bom Jesus dos Meiras, escreveu “A Pisa”, embelezado com os cordéis de Wagner Lima Santos e José Walter Pires. Este último – o Zé Walter – meu irmão e companheiro de longas caminhadas.

Pois bem, o livro “A Pisa” é o tresdobro da literatura popular, com a participação dos cordéis de Wagner e Walter, o que em muito valorizou o belíssimo conto “A Pisa” (VI Prêmio Nestlé de Literatura Brasileira), do poeta Tiãozito. Nota-se que a “pisa”, na nossa linguagem baiana, trata-se de uma “surra” bem aplicada e merecedora à maneira do “bacalhau”, na época da escravidão negra. Entretanto, o autor, em momento algum, quis tirar proveito de uma situação para fazer apologia do crime contra a mulher, apenas procurou ele registrar um fato antigo que deixou falação na cultura do povo brumadense. É um fato real com narrativa romanceada pelo autor. Por outro lado, os poetas cordelistas, Wagner e Walter, transmudaram a história de Tiãozito, numa nova versão literária, com as suas brilhantes sextilhas em redondilha maior. E o que era belo ficou ainda mais bonito!

Disse-nos o prefaciador, Jose Sarney, que “o conto tem como cenário um povoado do interior, com suas casas simples, esta, porém, de adobe e de telha vã, batentes de porta feitos com troncos de árvores”. Poderia, ainda, o prefaciador, ter falado mais sobre a região do médio São Francisco e do alto Rio das Contas. Aliás, o conto de Tiãozito já menciona essas características. Ele fala de povo ordeiro, simples e trabalhador. Brejo do Campo Seco sempre foi palco das mais interessantes estórias do sertão baiano. Em vista disso não podemos deixar de citar, aqui, as desavenças das famílias Castros, Mouras e Canguçu, quando houve o espetacular sequestro da menina Pórcia, a tia do poeta Castro Alves, pelo valente sertanejo Leolino Canguçu.

Assim, o conto em prosa evidentemente que tem lá as suas magias e os seus mistérios. Todo sortilégio é necessário para prender o leitor no desenrolar dos fatos. Tiãozito faz isso muito bem nos seus textos. Os seus convidados, dois “monstros” da literatura de cordel, complementaram o aprazível enredo dos fatos com a elegância, também, de quem sabe o que faz. Assim, “este livro – diz o editor – é o resultado surpreendente de uma simbiose de estilos de comunicação, a escrita e a oral, o conto perpassado de literalidade e os versos espontâneos dos cordelistas. A partir de um conto do autor baiano Tiãozito, dos mais fogosos em estilo, dois cordelistas – Wagner Lima Santos e José Walter Pires – reinventaram a estória com a melhor qualidade da técnica poética nordestina. A Pisa, em três versões é, portanto, um livro destinado a agradar a gregos e troianos. E – por que não? – a você também”. Ainda traz o livro “A Pisa” a sua capa com ilustração da artista plástica montes-clarense Yara Tupinambá e apresentações de José Sarney, Esechias Araújo Lima e Carlos Jeovah. Parabéns, Tiãozito, Wagner e Walter!