Sertão Hoje

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Colunistas

Aurélio Rocha

brumadense, paramiriense e caetiteense, Aurélio Rocha é médico, formado pela UFBA, turma de 1963. É professor Titular de Ginecologia-Obstetrícia da Faculdade de Itajubá-MG

CRISTO E O MENINO

São alguns anos passados quando me deram uma foto em papel sem muito esmero e o destaque era apenas o rosto de um Cristo, com sua barba e se poderia até achar sinais do pescoço. Achei importante. Nada de rebusco, acabamentos. A foto de um real Cristo! Mandei colocar num quadro, o mais simples, de madeira sem mesmo ser envernizada. Tal quadro fica na parede do quarto de dormir há exatos 20 anos (me recordei agora). Hoje o retirei. Sobre a mesa da pequena biblioteca foi colocado com visão do forro (papelão amarelado) à mostra. Recortei uma foto publicada na primeira página de um jornal com o corpo de um menino, lá de longe, do outro lado do mundo, cujo nome e Aylan e com apenas três anos e já morto chegou a uma praia. Após colar, o quadro foi recolocado no mesmo lugar, suspenso num prego que até já enferrujado se encontra. É a foto do CRISTO que vejo. Agora não iriei fazer nada além de pensar no Aylan quando fizer prece ante o quadro. São as minhas preces, ao meu modo. Maneira que tenho de até viajar para rever amigos. E pedir PAZ para o MUNDO.

Tenho certeza que a situação dos amontoados de refugiados que desejam deixar seus países como Síria (onde uma guerra dura mais de quatro anos, de pura vaidade), o já famoso Afeganistão, o Iraque que até vinha em paz quando sob intervenção norte-americana, uma tal de Eritréia sem se esquecer de Nigéria e Somália, repito que tenho certeza que agora as nações da Europa terão sensibilidade para olhar o sério problema do momento com olhos acolhedores. A ONU terá que começar a se mexer por que por baixo, no momento já existem mais de 200 mil refugiados que deverão ser realocados e então ate se poderá contar o número de mortos que ficaram vagando lá pelos mares das travessias com destino à Europa.

É claro que em principio populações dos países referidos desejariam migrar para as Américas. Chegar à Europa e muito mais fácil via mar mediterrâneo. Mas isso não que dizer que nós, não europeus, não possamos começar a estender as mãos para acudir tantas pessoas que fogem de seus países por motivos que devem ser relevantes. O momento é de reflexão de autoridades que devem ser relevantes. O momento é de reflexão de autoridades que devem imitar Angela Merkel, que começa a abrir as portas da Alemanha. Há que se atentar para o relatório do alto Comissariado da ONU para Refugiados que revela que neste ano mais de 300 mil pessoas tentaram chegar à Europa usando a travessia marítima e a grosso modo já se computa TRÊS MIL pessoas que morreram no trajeto quer de fome, sede e a maioria por afogamento.

Nada mais tinha a escrever no momento. Então me sentei ante o quadro com a foto do Cristo, pensei na foto do Aylan que coloquei no verso. E orei para ele, para a mãe dele e mais três irmãos todos que também morreram afogados. Os corpos não chegaram para a praia. O pai sobreviveu e fez enterro da família. Todos desejam uma nova vida. Eu, lá no fundo, até acho que eles subiram para uma nova dimensão. Sem dúvida.

Itajubá, 03.09.2015