Sertão Hoje

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Aurélio Rocha

brumadense, paramiriense e caetiteense, Aurélio Rocha é médico, formado pela UFBA, turma de 1963. É professor Titular de Ginecologia-Obstetrícia da Faculdade de Itajubá-MG

ENCONTRO COM DEUS

O homem é intelectual de talento, ligado á Universidade de Oxford, conferencista de renome, autor de livro e aos 74 anos, nos últimos dias, com palestra que fez durante a conferência designada de “Fronteiras do Pensamento”, em São Paulo, reafirmou a sua dúvida sobre a existência de Deus. Ele disse:

Não discuto a existência de Deus. Ou se aceita ou não. Não há meio termo. Mas a seguir vai a crônica que iria ser a abertura acima:

Como estamos atendendo, em caráter filantrópico – não há nenhuma remuneração – numa entidade que abriga idosos, claro que haverá momento que exige-se atestar o óbito, função também do médico. E uma senhorinha, d. Terezinha, que estava vivendo no abrigo há exatos 60 anos e ali havia chegado com 41 anos e absolutamente seus parentes, com tranquilidade aos 101 anos fez ela “a grande viagem, com a assistência dos servidores do turno”. O corpo arrumado e o caixão colocado numa pela capela que existe no abrigo. O registro do fato foi à noite.

Manhã seguinte, logo às nove horas, como de hábito entramos no abrigo e como teríamos que passar pela lateral da capela, vimos aquele caixão branco (de virgem, é o que dizem mas no caso confirmamos em tese) no centro e nenhuma alma vivente presente. Foi ai que – não sabemos explicar – resolvemos entrar na capela. Sentamos num banco e assim ficamos eu e o corpo bem arrumado num caixão. No inicio apenas pensando na d. Terezinha (seu nome) que viveu, pelo menos 60 anos dos 101 tendo como família só os “velhinhos albergados na instituição”. Aos poucos, sozinho ali, num silêncio que fazia bem, comecei a fazer silenciosas orações para aquele corpo porque quando em vida eu assisti. Havia algo estranho. Não era nada ruim. O fato é que lágrimas incontroláveis me obrigaram a retirar os óculos. Deixei que escorressem porque não me incomodavam. Ao contrário fui invadido por uma sensação indescritível, como se eu estivesse ali a cumprir uma momento previamente determinado por forças estranhas. Sozinho continuei até que me refiz e comecei a rotina na enfermaria.

Diariamente, após a rotina, antes do almoço, pelo menos durante 30 minutos temos um bate-papo com um jornalista de nome Adão (religioso). E, então narrei o fato a ele e ele me olhou e foi enfático:

- Você teve hoje um encontro com Deus!...

Saí convicto que as ideias do cientista Richard Dawkins podem ser discutidas mas não aceitas.