Sertão Hoje

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Aurélio Rocha

brumadense, paramiriense e caetiteense, Aurélio Rocha é médico, formado pela UFBA, turma de 1963. É professor Titular de Ginecologia-Obstetrícia da Faculdade de Itajubá-MG

OLHA A CESAREA!

Leitura de jornal é habito que começou lá na infância. Claro que quando criança ai pelo sertão, as comunicações não eram simples. Mais rápido o rádio com seus acumuladores uma vez que a energia não abundava. A revista “Vida Doméstica” era a comandante. Jornal predominante “A Tarde”. O fato é que até hoje leio pela manhã, e isso há anos, como exemplo a “Folha de São Paulo”. E hoje, em sua edição na página “Tendências/Debates” há um artigo escrito pelo ministro da Saúde Dr. Arthur Chioso e da diretora da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar) Martha Oliveira. O Ministro sei que é professor na Escola Paulista mas não da área obstétrica. Ambos abordam a necessidade de reduzir a incidência das cesáreas no Brasil, tema que já até abordamos. Muita “lenga-lenga” e no fim deixa como estar para se ver como fica, segundo o adágio popular.

Mas após leitura veio a mente como era lá no passado. Claro que já existia a universidade da Bahia, sua Faculdade de Medicina, uma estrutura de ensino bem montada. O ensino da OBSTRETICIA era desenvolvido de maneira programática mas com certeza aqueles que desejavam ser OBSTRETAS teria que ingressar nos quadros da MATERNIDADE TYSILA BALBINO como aspirante a interno e depois interno culminado no 6º ano e cientifica especialidade”. Ainda existem remanescentes dessa época em atividade pelo sertão baiano como o Dr. Zequinha em Caetité (não achei até hoje nenhum outro obstetra para aplicar um FORCEPS com tamanha eficiência) e que foram discípulos do Dr. Tavares, Nelson Madureira mestres no exercício da especialidade e vindo sendo acompanhado por exemplo por um Elias Darzé.

Estou a voltar no tempo para poder comparar, se possível, as cesáreas de ontem com as de hoje. As grávidas em trabalho de parto eram acompanhadas por internos do 5º ano sob supervisão e a decisão de uma cesárea era com criteriosa avaliação. E isso porque naquela época a ANESTESIOLOGIA não havia chegado ao topo de hoje. Basta dizer que os avanços com aparelhos “Takaoka” foi lento e os primeiros fabricados por Kentaro Takaoka (fábrica lá na Av. Bosque da Saúde, 650) Foram apresentados durante um congresso no recife na década de 50, por aí (hoje me escapou...). Os anestésicos para a RAQUIANESTESIA ainda não haviam evoluído muito e os riscos eram anotados para se decidir. Me recordo que durante um plantão – já 6º ano, mês de outubro, 1963 – cheguei ao Dr. Tavares e relatei o quadro de uma gestante e EU indicava a CESAREA. Ele me ouviu, me acompanhou até o pré-parto onde eu indiquei  qual a gestante. Ele fez a rotina de exame obstétrico e após, para alegria nossa, sentenciou que seria feita a cesárea por mim e ele auxiliaria sob anestesia de Renato Marques. Tudo felizmente dentro do esperado. A incisão mediana. Um queloide iria sair ali, provavelmente, levando-se em considerações a raça da agora puérpera...

Toda equipe da Tysila Balbino cumpria 24 horas de plantão dentro do hospital. Havia quarto dos médicos. Dos internos separados e de quebra até para os “aspirante”. E toda estrutura quem bancava? O GOVERNO DO ESTADO DA BAHIA. Não havia planos d saúde Unimedes etc. O médico tinha salário para 24 horas semanais em regime de plantão. E até os internos concursados tinham “um pro-labore” mas contava o tempo de serviço. A primeira coisa que fiz assim que me formei foi ir à Secretária da Saúde e pedir meu tempo de serviço que adicionei aos demais e me permitiu aposentadoria que disputo e merecida... O fato é que o índice de Cesareana era baixo e o “fórceps” (Vários tipos) usado sem maiores danos quando bem aplicado.

Hoje – pleno domingo – até não gostaria de tocar neste assunto (cesárea com índice alto) porque o comando das decisões obstétricas reduzidas “à decisão que a gestante impõe já que paga plano” e por outro lado o despreparo do médico o que não é novidade pelos resultados dos concursos! Particularmente agradeço ao governo da Bahia (na época Antônio Balbino) que lá na Baixada de Quintas ergueu uma maternidade modelo para atender gratuitamente – GRATUITAMENTE REPITO – as gestantes em todo o ciclo gravídico-puerperal e não somente no momento do parto. Na realidade meus mestres (não vou citar nomes) na arte “de partejar” constituíram o Corpo Clinico efetivo da Tysila. Bons tempos aqueles quando não se angustiava com “palnos” e mais outras aberrações. Quer diminuir as cesáreas? Deixem as PARTEIRAS atuarem e coloque o MÉDICO lá no quarto em PRONTIDÃO. Muita coisa mudará. Hoje extrapolei né?