Sertão Hoje

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Aurélio Rocha

brumadense, paramiriense e caetiteense, Aurélio Rocha é médico, formado pela UFBA, turma de 1963. É professor Titular de Ginecologia-Obstetrícia da Faculdade de Itajubá-MG

QUARTA-FEIRA E LIVRO

Se pega jornal e revista e a noticia é uniforme: carnaval violento, crise, população endividada, o PT fazendo força para “explicar o inexplicável” em relação a Lula e nesse amaranho vou divagando. Graças ´s leitura – não internet – já que hoje é uma “quarta-feira de cinzas” o excelente homem de letras Carlos Heitor Cony está a me permitir um passeio pelo passado e então – é o óbvio – aterrisso no Paramirim e ouço o “velho” Aurélio a não creditar nas cinzas que o padre Benvindo distribuía e “seu Oscar agilizava” para os fieis passarem na testa...

Interessante é que embora não acreditando “nas cinzas” sabia o doutor Aurélio respeitar a fé dos outros, com certeza uma maioria que jamais procurou saber o significado das “cinzas, em cruz, na testa”. Sei que – e agora o Cony me aviva a memória – o “pai Aurélio” primeiro citava um texto em Latim (a língua que Padre Oswaldo, depois Monsenhor tentava me enssinar lá em Caetité, idos de 1949).

-“...memento homo quia pulvis este in pulvis reverteris...”

Claro que todos nós, meninos na escola primária teríamos que ficar esperando uma tradução (para o mano dr. Orrélio era uma explicação) que chegava, simples:

-“...lembra-te, homem, que és pó e ao pó tornarás...”

Na realidade nunca coloquei cinza na testa. Não me foi proibido mas se meu pai não botava nem a mãe “religiosa com ninchos de santos em todos os quartos”, não seria eu a chegar até o Padre Benvindo, por sinal a quem cheguei a prestar eventual assistência como médico.

Mas deixando as “cinzas” de lado e sem ressaca porque a esta altura me recordo que o último carnaval que pulei foi em 1963, lá na Rua Chile, continuarei no Paramirim e ouço uma conversa de um grupo de homens com “meu pai Aurélio”. O tema no inicio me pareceu difícil para que entendesse já que tratava especificamente de comentar e criticar um livro escrito por Adolf Hitler (me parece única coisa que escreveu) com titulo título de “Minha Luta” (já traduzido do alemão que não cito agora).

A opinião do grupo, pelo que observei como menino atento foi de repudio. O leitor da obra, além do dr. Aurélio, foi “seu” Ulysses Brito que abominou a obra. Agora, não entendo razões, há uma discussão em torno daquela “anomalia escrita e publicada em 1925” por um ser que particularmente não deveria ter existido. A discussão é se deve ser publicada a tradução e ai é o problema porque autoridades fluminenses “apreenderam a primeira edição”.

Não irei perder tempo para ler uma “coisa” que cheguei até o meio do livro quando num plantão, em 1962, lá na Maternidade Tsyla Balbino, um doutor (omito o nome) fazia até apologia da obra. Perda de tempo. A História está ai para falar a verdade. Então deixo Paramirim, vou a Caetité, abraço o irmão Zequinha e é óbvio irei andar por Brumado. Afinal hoje não tem mais carnaval. Tem cinzas...